No dia 13 de julho de 2009, Valdenir Benedetti deixou este mundo para viver entre as estrelas, talvez seu ambiente mais familiar. Porém aqui permanece imortalizado pela sua maneira de pensar e ensinar a astrologia. Muito amado por muitos, deixou uma marca indelével em seus alunos e em todos os astrólogos que com ele conviveram e que reconheceram nele um renovador da nossa arte de interpretar os céus. Como acontece a todos os que ousam transgredir, questionar e inovar, também teve lá seus desafetos, faz parte... Por sorte deixou inúmeros textos, alguns publicados outros não. Este blog foi criado para que todo o seu pensamento fosse acessível tanto aos que o conheceram quanto aos que, ao longo de seu aprendizado da Astrologia, com certeza dele ouvirão falar.



"Há pessoas que nos falam e nem escutamos, há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam, mas há pessoas que simplesmente aparecem em nossas vidase nos marcam para sempre."

Cecília Meireles







26.6.10

O SONHO DO PLANETA (1) - Reflexões astrológicas

Usei o texto do Nagual Don Miguel Ruiz para fazer uma reflexão astrológica.

Resolvi compartilhar com todos como um ritual de doação em homenagem à conjunção Vênus/Júpiter.

É um texto escrito praticamente de um fôlego só, onde faço observações astrológicas sobre as palavras de D. Miguel. Não tem a pretensão de ser um texto perfeito nem nada, são apenas reflexões.

Como é muito grande, vou mandá-lo em partes.

Quem usar, dê o crédito que a responsabilidade pelas palavras é minha.

Obrigado.

Val Benedetti

DOMESTICAÇÃO E SONHO DO PLANETA

Don Miguel Ruiz

O que você está vendo e ouvindo neste momento não passa de um sonho. Você está sonhando neste momento. Está sonhando com o cérebro acordado.

Sonhar é a principal função da mente, e os sonhos da mente duram vinte e quatro horas por dia. Sonhamos quando o cérebro está acordado e também sonhamos quando o cérebro está adormecido. A diferença é que quando o cérebro está acordado, existe uma moldura material que nos faz perceber as coisas de forma linear. Quando vamos dormir, não temos essa moldura, e o sonho possui a tendência de mudar constantemente.

VAL
Esta é uma forma de ver a realidade como uma projeção da mente. Se pensarmos no horóscopo e olharmos esta idéia sob o prisma da astrologia, podemos entender que os símbolos, como nós os interpretamos, são leituras deste sonho coletivo, e que seu verdadeiro significado permanece oculto na “moldura” de nosso sonho da realidade.


Talvez seja momento de, se pretendermos acordar de fato, de começar a perceber que pode haver outra leitura, outra interpretação para os símbolos astrológicos, que transcende este sonho coletivo.


Neste caso, se chegarmos a uma percepção dos significados dos sonhos além das imposições deste Sonho do Planeta, estaremos a caminho da libertação, estaremos indo em direção ao Acordar do Sonho do Planeta, usando a astrologia!

D.M.
Os seres humanos não estão sonhando o tempo todo. Antes que nascêssemos, os que existiam anteriormente a nós, criaram um grande sonho externo que denominamos sonho da sociedade ou * sonho do planeta * . O sonho do planeta é um sonho coletivo de bilhões de sonhos pessoais menores, que, juntos, formam o sonho de uma cidade, o sonho de um país, e, finalmente, o sonho de toda a humanidade. O sonho do planeta inclui todas as regras da sociedade, suas crenças, suas leis, suas religiões, suas diferentes culturas e formas de ser, seus governantes, escolas, eventos sociais e feriados.

Val
É impressionante como a visão que temos da astrologia e suas funções está comprometida e submetida a este Sonho do Planeta. Não conseguimos nos livrar deste sonho, destas regras existenciais, morais, etc. que existiam antes de nascermos. Isto vale para cada palavra dita sobre um horóscopo, isto vale também para as regras de interpretação, para os significados que atribuímos aos planetas, todos atrelados a este Sonho do Planeta.

D.M.
Nascemos com a capacidade de aprender como sonhar, e os seres humanos que viveram antes de nós nos ensinaram a sonhar da forma que a sociedade sonha. O sonho exterior possui tantas regras que, quando um novo ser humano nasce, captamos a atenção da criança e apresentamos as regras à mente dela. O sonho exterior usa Papai e Mamãe, as escolas e a religião para nos ensinar a sonhar.

Val
Astrologicamente, mesmo que ainda estejamos usando a astrologia no plano do Sonho do Planeta, cada um dos símbolos planetários tem uma correlação com nossa capacidade de criar significados internos para o que eles representam, e estes significados passam a ser distorcidos pelos que nos ensinaram as regras deste Sonho do Planeta.


Neste caso, Vênus vai representar basicamente o que papai e mamãe (representando nossos formadores em geral) nos apresentaram. Um modelo de desejo, um modelo de amor que não é necessariamente o modelo venusiano que corresponde à nossa essência. O mesmo ocorre com o Sol, com a Lua e com os demais planetas e símbolos. O que nós entendemos por desejo (Vênus), comunicação (mercúrio), expansão (Júpiter), estrutura (Saturno) e assim por diante, é apenas nosso reflexo ao que nos foi imposto a partir de um sonho coletivo, o Sonho do Planeta. Ai está um caminho para nossa libertação deste sonho: descobrirmos dentro de nós, trabalhando com um processo muito crítico e criativo, as outras possibilidades de expressão destes símbolos, mesmo que elas contrariem os parâmetros do Sonho do Planeta. Mas afinal, quem se atreve?

D.M.
A atenção é a capacidade que possuímos de discriminar e nos focalizar apenas no que desejamos perceber. Podemos perceber milhões de coisas ao mesmo tempo, mas, usando nossa atenção, podemos segurar qualquer delas no primeiro plano de nossa mente. Os adultos ao redor de nós capturaram nossa atenção e colocaram informações em nossas mentes mediante a repetição. Essa é a forma pela qual aprendemos tudo que sabemos.

Val
Esta capacidade de discriminar está correlacionada astrologicamente com Vênus, que rege a ponderação e a discriminação, e é este planeta que precisa ser trabalhado para que a gente possa começar a escolher outras coisas onde focalizar nossa atenção. Quando a gente muda o foco de nossa atenção, mudamos a dimensão dos acontecimentos, pois “as coisas acontecem no plano onde nos focalizamos” e, portanto, devemos nos focalizar alem do sonho, para que esta realidade sonhada saia de foco e a gente consiga perceber uma realidade alem das regras impostas por este sonhar coletivo.


Mas tem um pequeno problema: para usarmos Vênus em nossas vidas de outra maneira, aprendendo a escolher o que queremos e não o que os é imposto (isto depois da primeira infância, claro), também teremos que mexer em outros atributos de Vênus, especialmente o Desejo e tudo que está relacionado a ele, particularmente nossos padrões afetivos, também submetidos ao Sonho do Planeta. A resistência para aceitar uma transformação em nossa pseudo realidade afetiva tende a ser muito grande.


Para “captar” nossa atenção, os nossos “formadores” utilizam nossa Lua natal, pois a necessidade de sobrevivência e continuidade, qualidades essenciais e biológicas, é um atributo da Lua, e somos neste primeiro momento da vida, na infância, manipulados pela nossa capacidade de sobreviver. Se não prestarmos atenção, não poderemos sobreviver, então, assim capturam nossa atenção, exatamente como faz um cachorrinho quando ouve o barulho de sua tigela de comida sendo arrastada no chão. Usa-se a necessidade básica de sobrevivência para chamar a atenção do cão. Com as crianças é a mesma coisa, apenas a forma é diferente, por isso a Lua nos dá a medida deste mecanismo de prender a atenção delas, de estabelecer um vínculo de controle.

D.M.
Utilizando nossa atenção, aprendemos uma realidade inteira, um sonho inteiro. Aprendemos como nos comportar em sociedade, em que acreditar e em que não acreditar, o que é bom e o que é mau, o que é bonito e o que é feio, o que é certo e o que é errado. Tudo já estava lá - todo este conhecimento, todas as regras e conceitos sobre como comportar-se no mundo.

Val
Esta fase de condicionamento, de assimilarmos os modelos de comportamento da sociedade, é uma fase lunar da vida, o canal, o mecanismo é o lunar, e a forma de nossa atenção e o preço que cobramos por ela, nossas chantagens e tudo mais, tem as características do signo e casa que contem a Lua.


Quanto ao que é bom e mau, bonito e feio, certo e errado, já é um atributo eletivo de Vênus, o planeta da escolha e da eleição, e é assim que nossos critérios estéticos e afetivos são contaminados pelo Sonho do Planeta.


Mercúrio cumpre sempre a função de intermediário entre a lua e o que vem depois, entre o Sol e os planetas que vem na seqüência, e nosso mercúrio assimila o discurso e as regras que passaram primeiro pela nossa Lua natal, e passa a ser o canal de expressão das condições existenciais de quem vive submerso no Sonho do Planeta, pois mercúrio incorporará neste momento da vida a capacidade de racionalizar, justificar e tornar a realidade descritível.

D.M.
Quando você estava na escola, sentava-se numa cadeira pequena e colocava sua atenção no que o professor estava ensinando. Quando você ia à igreja, colocava sua atenção naquilo que o padre ou pastor dizia. É a mesma dinâmica com pais e mães, irmãos e irmãs: todos tentam capturar sua atenção. Aprendemos também a capturar as atenções de outros seres humanos e desenvolvemos certa necessidade de atenção que pode se tornar extremamente competitiva. As crianças competem para Ter a atenção dos pais, dos professores, dos amigos. “Olhe para mim! Veja o que estou fazendo! Ei, estou aqui.” A necessidade de atenção se torna muito forte e continua pela vida adulta.

Val
Os planetas vão funcionar, a partir desta idéia, em duas direções. Vamos usar o mesmo instrumento que foi usado para nos condicionar, para tentar condicionar os outros, a mesma fórmula, o mesmo discurso, e mais uma vez a essência de nossa lua e demais planetas foi “capturada” e distorcida, e cada vez mais vamos nos comprometendo com este Sonho do Planeta e suas regras e padrões. A competitividade pela atenção começa a funcionar como um distorcedor de Marte em nosso horóscopo, e por isso, usamos muitas vezes nosso Marte como um agente de agressividade, competição, atitudes distorcidas, tônus inadequado, sexualidade pervertida ou frustrada e tudo mais, porque o Sonho do Planeta muitas vezes não tem a vibração sintonizada com nossa Natureza Essencial.

D.M.
O sonho exterior captura nossa atenção e nos ensina em que acreditar, começando com a linguagem que utilizamos. A linguagem é o código para entendimento e a comunicação entre os seres humanos. Cada letra, cada palavra em cada linguagem é um acordo. Chamamos a isso de página de um livro; a palavra página é um acordo que entendemos. Uma vez que se compreenda o código, nossa atenção é capturada e a energia é transferida de uma pessoa para outra.

Val
Bem demonstrado neste parágrafo o condicionamento de nosso Mercúrio. Na verdade, toda a casa III está envolvida na questão, seu regente, os planetas que estão lá, o signo da casa III, etc. Podemos considerar que, por ser a IX da VII, a casa III corresponde ao “conhecimento do outro”, e por ser a VI da X, corresponde ao método, aos rituais que o mundo externo utiliza para se manifestar, curiosamente, este método do mundo se cristalizar em nossa vida é o discurso, a palavra, o mundo das idéias, os padrões de descrição e elaboração mental da realidade. Isto torna o “mundo exterior em nos” uma idéia, uma descrição. Essas conotações da casa III mostram bem o mecanismo da imposição do Sonho do Planeta e de como acabamos utilizando nossa inteligência e o discurso, a capacidade de expressão como um mecanismo condicionado para alimentar constantemente através das explicações o Sonho do Planeta, que na verdade é um grande discurso, um imenso blá blá blá. Os acordos são estabelecidos, ou melhor, são impostos à mente da criança, e só resta a nós entender o mundo através dos códigos que nos foram impingidos.

D.M.
Não foi sua escolha falar português. Você não escolheu sua religião e valores morais - eles já existiam antes de você nascer. Nunca tivemos a oportunidade de escolher em que acreditar ou não acreditar. Nunca escolhemos nem ao menos o menor desses acordos. Não escolhemos nem mesmo nosso próprio nome.

Val
É interessante observar que os valores que se estabelecem em nosso ser Lunar, e se expressam e são absorvidos através de Mercúrio, contém uma série de referências e argumentos para se “auto-alimentarem”.


Podemos perceber isto exatamente agora, quando nos perguntamos: “quem disse que este D. Miguel está certo? De onde ele tirou esta idéia maluca de Sonho do Planeta? Então não existe realidade? Etc. etc.”


Os contra argumentos mercurianos, dentro do modelo do Sonho do Planeta são sempre Negar qualquer evidencia deste próprio sonho, dizer que é coisa de maluco, que não é “cientifico”; e nesta contra-argumentação do plano do Sonho do Planeta, percebemos o quanto a função mercuriana é uma expressão, uma extensão da atividade Lunar, pois são os condicionamentos mais profundos e inconscientes que oferecem os argumentos que utilizamos para justificar a manutenção qualquer coisa, até o sofrimento, até a acomodação no estado de não sermos nós mesmos e sim o “desejo”, a ração, o alimento mantenedor do Sonho do Planeta, aquele que foi sonhado há muito tempo antes de nós, e que continua nos possuindo.

D.M.
Quando crianças, não tivemos oportunidade de escolher nossas crenças, mas ‘concordamos’ com a informação que nos foi passada sobre o sonho do planeta por intermédio de outros seres humanos. A única maneira de armazenar informações é por acordo. O sonho exterior pode captar nossa atenção, mas se não concordarmos, não armazenamos essa informação. Assim que concordamos, ‘acreditamos’, e isso é chamado de fé. Ter fé é acreditar incondicionalmente.

Val:
Somente acreditamos, somente fazemos este acordo porque nossa sobrevivência física depende disto! Só nos é dada a ração, o leite, o pão, o afeto, o reconhecimento se aceitarmos o acordo, e é assim que se subjuga a criança dentro de nós, é assim que se condiciona a função lunar para que ela seja uma expressão de um sonho que não é o nosso. O “dispositor” da Lua, sua casa e signo, o planeta que rege o signo onde a lua se encontra, representa as condições e o mecanismo de imposição de um modelo formativo da personalidade. São os termos do acordo, as clausulas do contrato que, se não aceitarmos naquele momento, sugerem os primeiros castigos, as primeiras perdas, a primeira dor. Só nos resta concordar então.

D.M.
Foi assim que aprendemos quando crianças. Crianças acreditam em tudo o que os adultos dizem. Concordamos com eles, e nossa fé é tão forte que o sistema de fé controla todo o nosso sonho de vida. Não escolhemos essas crenças, e poderíamos nos Ter rebelado contra elas, mas não tivemos força suficiente para realizar essa rebelião. O resultado ceder às crenças com nosso ‘consentimento’.

Val
As crianças acreditam, ou seja, dão um crédito, porque elas não tem ainda conhecimento da mentira. A gente dá um crédito quando não tem convicção de nada, e a convicção é um estado de quem tem conhecimento. Apenas quando temos “conhecimento” real de algo, podemos agir com convicção em vez de agir com fé. Por isso a maioria das religiões institucionalizadas, aliás, a maioria das instituições, sejam econômicas, políticas, familiares, sociais, religiosas, tem interesse em que as pessoas acreditem em seus dogmas e suas verdades, pois só com fé a gente pode aceitar certas mentiras que por exemplo os políticos e economistas contam para manter seu Sonho de Poder, uma das maiores características do Sonho do Planeta. A mesma fórmula é usada com as crianças por pais que acreditam neste sonho, que tem fé nele, pois quem tem sabedoria, tem também convicção, e raramente seria conivente com o sonho dos outros, com a ilusão .Para se rebelar é necessário o Conhecimento das Leis Naturais, é necessário sair da ilusão do Sonho do Planeta, do Maya, e agir com Convicção.


Para isto a astrologia pode ser muito boa. Mas infelizmente nós (astrólogos) também fomos convencidos em nossa infância de que o bom, o certo é o Sonho do Planeta, e nossos conseqüentes Sonhos Pessoais.


Por isso a astrologia acadêmica, a astrologia “tradicional” é apenas um instrumento para alimentar a grande ilusão, o grande sonho e nos manter atrelados a ele, talvez até felizes dentro dele. Todo nosso discurso astrológico é sustentado pelas nossas crenças, pela idéia de que o que vemos e sentimos é a realidade verdadeira. Aprendemos a acreditar que o mundo é o que nos descreveram na primeira infância, e não concebemos outra possibilidade para ele. Intuímos que existem outras dimensões, que existe uma “realidade” possível alem de Saturno, alem da estrutura visível e palpável, mas insistimos em reduzir esta “realidade” a denominadores comuns atrelados à manutenção do Sonho do Planeta, e acabamos por usar a Astrologia como um recurso adicional para reforçar este Sonho, em nós e nos outros.

Don Miguel
Chamo este processo de a ‘domesticação de seres humanos’. E por intermédio desta domesticação aprendemos como viver e como sonhar. Na domesticação de seres humanos, a informação do sonho exterior é conduzida para o sonho interior, criando nosso sistema de crenças. Primeiro a criança aprende o nome das pessoas e das coisas: mamãe, papai, leite, garrafa. Dia a dia, em casa, na escola, na igreja e na televisão, nos dizem como viver, que tipo de comportamento é aceitável. O sonho exterior nos ensina a ser um ser humano. Temos um conceito completo sobre o que é uma “mulher” e o que é um “homem”. Também aprendemos a julgar: julgamos a nós mesmos, julgamos as outras pessoas, julgamos os vizinhos.

Val:
Os conceitos que nós humanos desenvolvemos do que é uma “mulher” ou um “homem”, por exemplo, são representados genericamente pelo Sol e pela Lua em nosso horóscopo. Daí que tudo que dizemos sobre o Sol e a Lua em termos de descrição de Pai, Mãe, masculino, feminino, etc., está condicionado ao que o Sonho do Planeta nos ensinou, está vinculado aos conceitos de uma realidade que não é real, que é uma ilusão, daí que de pouco ou nada servem - ou servem apenas à manutenção do Sonho. Mas percebam como é complicado nos atrevermos a questionar as definições que damos a Sol e Lua no horóscopo. Estamos tão submersos no Sonho que nos foi imposto, o Sonho é tão lógico e coerente que se torna inconcebível e tremendamente arriscado nos atrevermos a afirmar que talvez o Sol e a Lua possam ter outros significados além daquele aceitável dentro do plano do Sonho. Quem se arrisca? O “julgamento” que fazemos na verdade é uma projeção do significado dos símbolos como eles se manifestam em nós, vinculados aos condicionamentos do Sonho do Planeta. Isto serve tanto para a descrição astrológica das configurações, dos signos e símbolos no horóscopo, quanto para a percepção que cada um de nós tem de si mesmo. O Julgamento na verdade é uma projeção de nossas expectativas, e a manifestação do simbolismo astrológico em nossa vida comum é manifestada , é potencializada pela expressão de expectativas representadas por esses mesmos símbolos, e isto cria o mecanismo chamado “projeção”. O Sonho do Planeta se mantém mecanicamente através da projeção de nossas expectativas, e daí que, astrologicamente, a casa oposta a qualquer questão, a casa onde se projeta as expectativas, onde está a sombra de uma determinada casa qualquer, passa a ser prevalente na realização do horóscopo da pessoa. Um bom exemplo disso é a intensidade com que nos projetamos, focalizamos nossas expectativas na casa VII, a casa do “outro”, na verdade, do “outro que está em nós” , mas que no Sonho do Planeta, que precisa da separatividade para subsistir, é um “outro” que está sempre fora de nós, e com o qual temos que nos preocupar, e para o qual temos que sempre dar conta de nossos atos e tudo mais, isto desde a infância, desde nossa infantil necessidade (cobrada, condicionada) de dar conta de cada mínimo movimento ou sorriso ou lágrima à nossos pais e formadores. Isto apenas continua re-criando a ilusão de que a casa VII representa algo ou alguém que está fora de nós, está separado de nós, e precisa ser seduzido e conquistado e mantido para que sejamos, para nos sentirmos um pouco inteiros, quando na verdade, dentro deste Sonho, somos apenas metade de nós, somos apenas uma ilusão de nós mesmos, pois se fossemos por um segundo inteiros, plenos, nos rebelaríamos e acordaríamos deste eterno Sonhar. Ah, e não precisaríamos do “outro” como nos é proposto pelo Sonho do Planeta, pois o “outro” está dentro de nós mesmos, e só percebemos e reconhecemos nele o que está dentro de nós mesmos, e como toda ilusão o que está dentro de nós, se estamos vivendo na dimensão de um sonho, o outro se torna uma ilusão em vez de algo real, uma ilusão que com a primeira brisa da consciência, o primeiro vislumbre de nossa verdade interior, se desfaz....


E ai a casa VII passa a ser uma imensa fonte de problemas, talvez a mais significativa deste planeta, pois nas condições impostas pelo Sonho do Planeta, o “outro” é sempre a referencia da minha realidade, ou melhor, da minha ilusão de que existo, pois dentro do Sonho, tudo é ilusão, até mesmo minha existência. Quem de nós quer transgredir esta regra do Sonho do Planeta? Quem de nós ousaria dizer que não precisamos do “outro” para não sofrermos de uma imensa solidão? Quem de nós se atreve a atribuir um outro significado à casa VII, que não seja uma mera projeção de nossa profunda carência (por sermos apenas parte de nossa verdadeira essência, de nossa plenitude natural)? Não é incomodo? Eu me sinto incomodado pensando isto. Que posso não precisar da pessoa que amo, que posso apenas compartilhar com ela minha plenitude natural, que infelizmente não me é permitida neste plano da existência por não ser conveniente às regras de manutenção e controle do Sonho do Planeta.


Vamos portanto continuar descrevendo e analisando a casa VII (e todas as outras casas, evidentemente) como algo que temos que conquistar FORA de nós mesmos, como algo que pode ser descrito como uma experiência a ser vivida, e não como algo que já existe em nós, bastando ser acessada pela consciência.

D.M.
As crianças são domesticadas da mesma forma que domesticamos um cão, um gato ou qualquer outro animal. Para ensinar um cachorro precisamos punir e dar recompensas a ele. Treinamos nossos filhos, aos quais amamos tanto, da mesma forma que treinamos qualquer animal doméstico: com um sistema de castigos e recompensas. Dizem-nos: “Você é um bom menino” ou “Você é uma boa menina” quando fazemos o que mamãe e papai querem que a gente faça. Quando isso não acontece, somos “meninos maus” ou “meninas más”.

Val:
Para o Sonho do Planeta, e para a astrologia que praticamos dentro desta dimensão ilusória, ser “bom” ou “mau” é essencial. Daí que temos também “bons e maus aspectos”, piores ou melhores configurações, tanto na vida quanto na análise da vida, através do horóscopo ou do que for, usamos os mesmos modelos. Esta expressão dos modelos externos e sociais na metodologia particular da astrologia tem a função de nos manter divididos e confusos, submersos na ilusão, atrelados ao Sonho do Planeta. Na Natureza, se observarmos criticamente, as coisas são o que são, e os atributos de “bondade” ou “maldade” que observamos nas relações entre os animais e as plantas é um problema de nossa mente, de nossa expectativa de como as coisas deveriam ser, do que é certo ou errado. Daí que nos chocamos quando um animal simplesmente devora outro, quando uma aranha se alimenta do macho após o acasalamento, quando uma orquídea suga a seiva da arvore que a hospeda até extingui-la, quando um corpo morre após cumprir sua função natural, que certamente é imensa, muito maior que nossos desejos, medos, leis e tudo mais que a psique descreve e espera da vida. Estamos, enquanto isso, projetando e às vezes saturando, -- através desta dança da sobrevivência -- , neste contexto biológico que não tem definições de “bem e mal”, nossos conceitos pessoais, adquiridos exatamente no processo de domesticação de nossa psique. É conseqüente que, na nossa decodificação dos símbolos astrológicos, utilizemos estas referencias condicionadas em nosso corpo e mente. É decorrente destes conceitos sustentados pela separatividade que, em nossa tradução humana dos significados das configurações astrológicas, atribuamos aos símbolos significados sustentados pelos conceitos de “bem” e “mal”, “bom” e “mau”, e com este procedimento e uso da linguagem, vamos sustentando e sedimentando cada vez mais em nossa mente e na dos outros o Sonho do Planeta e nosso sentimento de que somos seres separados uns dos outros e da natureza.

D.M.
Nas oportunidades em que fomos contra as regras, nos puniram; quando agimos de acordo com elas, ganhamos uma recompensa. Fomos castigados muitas vezes por dia e recompensados muitas vezes por dia. Logo ficamos com receio de sofrer o castigo e também com receio de não ganharmos a recompensa . A recompensa é a atenção que conseguimos de nossos pais ,ou de outras pessoas como irmãos, professores e amigos. Logo desenvolvemos necessidade de captar atenção de outras pessoas para conseguir a recompensa.

Val:
Este é o mecanismo que o Sonho do Planeta adota para nos forçar a construir nossos critérios de Valor e de Realidade. A casa II do horóscopo corresponde ao universo dos valores pessoais, e neste plano do Sonho, os valores são elaborados e mantidos por um mecanismo de punição e recompensa. Isto nos deixa constantemente inseguros e ameaçados, alem de incapazes de perceber que já temos dentro de nós todos os valores que precisamos. Mas é do mecanismo mantenedor do Sonho do Planeta que projetemos e busquemos a referencia de nossos valores fora de nós, pois nos sentimos separados do “outro” , e por isso, o “outro” tem que reconhecer e endossar meu Valor, pois sem isto eu não tenho como ter consciência de mim mesmo. A conseqüência é que vivemos inseguros, tabulamos um estado permanente de fragilidade e dependência do julgamento e do critério dos outros para que tenhamos algum valor. Esta fragilidade é necessária à manutenção do Sonho do Planeta, pois uma pessoa que tenha conhecimento de seu valor pessoal, e consequentemente que tenha convicção e aja com base nesta convicção, pode se libertar do Sonho, e isto não convém...A casa II passa a ser projetada na casa VIII, os “valores do outro”, a II da VII, já que a VII é o outro separado de nós. Só assim este mecanismo de recompensa pode funcionar.

Don Miguel
A recompensa provoca uma sensação boa, e continuamos fazendo o que os outros querem que a gente faça para obter a recompensa. Com medo de ser punidos e medo de não ganhar a recompensa , começamos a fingir ser o que não somos apenas para agradar aos outros, só para ser suficientemente bons para outras pessoas. Tentamos agradar a mamãe e papai, tentamos agradar aos professores na escola, tentamos agradar na igreja, e com isto começamos a representar. Fingimos ser o que não somos porque temos medo de ser rejeitados. O medo de sermos rejeitados torna-se o medo de não sermos suficientemente bons. Mais tarde, acabamos por nos tornar alguém que não somos. Tornamo-nos cópias das crenças de mamãe, das crenças de papai, das crenças da sociedade, das crenças religiosas.

Val:
Este mecanismo de elaboração dos valores pessoais (casa II) através da recompensa e da punição, é mais que uma relação meramente material. Tende a ser física, mas não necessariamente financeira. Afeto, compreensão, reconhecimento são também valores que adquirimos muitas vezes como recompensa por nosso “bom comportamento”. Lembremos que os critérios de nossa casa II passam a ser definidos pelo que a casa VIII nos apresenta, ou seja, nossos valores são delimitados pelos valores que re-conhecemos no “outro” e pelo que podemos obter dele, e com isto, negamos nossa própria capacidade de conquistar valores a partir de nosso íntimo, de nossa essência.


Podemos considerar também o fato da casa II ser a V da X, a quinta casa a partir do Meio do Céu. Neste caso ela, a casa II, representaria a “cristalização”, a materialização, a formatação dos princípios que regem nossa presença no mundo social, nosso “status” , e a expectativa que os outros tem de nós, tudo isto representado pela casa X. A casa X se “fixa”, se condensa, toma forma, materializa-se através da casa II. E como estamos falando de uma condição que vem de fora, que vem do mundo, o Sonho do Planeta, a casa II, nossos valores, passam a ser a expressão e a sedimentação de todo um modelo, de uma série de códigos e regras estabelecidas para que sejamos coniventes com o Sonho do Planeta. Poderíamos chamar estes códigos de “Critério de Realidade”, que se compõe, se sustenta, se cristaliza através de nossos Valores Pessoais, a casa II. A “questão” (casa, signo, planetas, regente, etc.) dos valores pessoais passa a ser, a partir do mecanismo de recompensa e punição - e a conseqüente insegurança que este mecanismo produz em nós - outra base da sustentação do Sonho do Planeta em nós, e o terreno fértil onde é gerado nosso Sonho Pessoal, infelizmente adubado pela insegurança e separatividade.


Junto a esta imposição de valores que o Sonho do Planeta apresenta, está um mecanismo que, em princípio é sutil, mas vai se tornando cada vez mais presente em nossas vidas, cada vez mais atuante, e poderíamos dizer que é a palavra chave, a senha, a base da manutenção de todo o Sonho O Apego.


Nossos critérios de valor passam, em função dos condicionamentos ao Sonho do Planeta, a ser mantidos com a insistência e determinação de quem precisa deles para sobreviver. Possuir algo, seja uma idéia, um conceito, um bem qualquer, é sempre uma questão de vida e morte no plano da grande ilusão coletiva que vivemos. Com o tempo, vamos nos tornando escravos deste apego, de tal forma que a experiência de possuir passa a ser mais importante que o próprio objeto possuído. O conseqüente medo de perder o “objeto” possuído nos mantém escravizado a um sistema de valores que nos obriga a uma série de condutas e comportamentos coerentes com o Sonho coletivo.


A identificação com o “objeto” possuído, e o apego decorrente, nos dá a ilusão de segurança, nos oferece a ilusão de que temos alguma inteireza, de que estamos materializados, de que temos consistência, de que somos “reais”, de que temos alguma perenidade, pois os objetos maiores de nosso apego, tendem a durar mais que nossas frágeis vidas. Tem também a ilusão de poder e controle que a posse nos oferece, e isto confere à nossa mente condicionada a idéia de que somos autores de nosso destino, pois podemos possuir mais ou menos coisas, podemos dispor das “coisas” como não podemos dispor de nossa própria vida, e isto é bastante confortável. Cada vez que analisamos a casa II de um horóscopo em termos do que a pessoa pode ter ou não ter, em termos de sua possibilidade financeira, de seu potencial de materializar e obter mais ou menos segurança, estamos endossando o Sonho do Planeta e a escravidão do indivíduo a ele, estamos reforçando os mecanismos de apego ou de insegurança da pessoa, exatamente por vivermos e estarmos sendo coerentes com o mesmo sonho, exatamente por nossa astrologia ser criada e estabelecida dentro da grande ilusão.


Neste momento, deixamos de ser agentes de transformação, de libertação, auxiliares do despertar do próximo, por estarmos também comprometidos com o grande Sonho do que é certo e errado, por estarmos também sonhando. E para o grande Sonho do Planeta, o certo é possuir o maior numero de coisas possível, a maior quantidade de pessoas, objetos, dinheiro que nossa vida puder conter, pois isto nos dará segurança e nos fará pessoas aceitáveis e normais dentro das regras da grande ilusão, mesmo que para conseguir as coisas, aumentar meu patrimônio, alguém tenha que sair perdendo. O Sonho do Planeta reconhece como “normal” que alguém sempre perca para alguém ganhar. Isto mantém e alimenta a “separatividade”, a idéia de que somos separados uns dos outros.

D.M.
Todas as nossas tendências normais são perdidas no processo da domesticação. E quando somos grandes o suficiente para que nossa mente compreenda, aprendemos a palavra ‘não’. Os adultos dizem “Não faça isto, não faça aquilo”. Nós nos rebelamos e dizemos “Não!”. Rebelamo-nos porque estamos defendendo nossa liberdade. Queremos ser nós mesmos, mas somos pouco, e os adultos são grandes e fortes. Depois de certo tempo, ficamos com medo porque sabemos que todas as vezes que fizermos algo errado, seremos castigados.

Val:
O que este “Não” provoca em nós, junto a todo o resto do processo de condicionamento de nossas vidas ao Sonho do Planeta é a grande desconexão, a ruptura com o Universo, uma separação dolorosa com o grande organismo cósmico e a conseqüente e permanente sensação de solidão, solidão cósmica! Esta separação, este aborto que o Sonho do Planeta provoca, para que isolados e fracos nada possamos fazer, nos transforma em uma célula sem organismo, um órgão sem corpo, e parece que a consciência da separação - esta sim permitida pelo Sonho do Planeta - nos deixa perdidos e perplexos, sempre em busca de um “outro” para compor nossa totalidade perdida.


A grande função da Astrologia poderia ser o “re-conectar” com o universo, com o “em cima”, com o “corpo de D’us”, pois é uma linguagem que se baseia justamente nas correlações universais. Mas para que isto acontecesse, seria necessário que a Astrologia se desvinculasse do Sonho do Planeta e parasse de alimentá-lo, parasse de concordar e endossar a separatividade humana, não funcionasse mais como uma explicação reducionista para nossa pequenez e isolamento; não servisse mais para explicar os fracassos e as distorções dentro da dimensão do Sonho do Planeta, justificando e endossando este Sonho como a única e perfeita verdade.


A função de re-conectar da astrologia, análoga ao que entendemos na maioria das religiões como o “religare”, re-estabelecer o contato com o Divino que há em nós, poderia ser muito simples e natural, se a Astrologia que conhecemos não estivesse tão comprometida com o Sonho do Planeta. A simples compreensão dos ritmos e ciclos naturais, sem o comprometimento de valores morais e culturais, já nos poderia colocar em sintonia com esta totalidade, já poderia ser suficiente para permitir um resgate do “homem natural”, o Homem Desperto, desvinculado e descomprometido com este Sonho do Planeta, sintonizado com sua essência e com a plena capacidade de utilizar o poder de seu espírito para recriar a realidade, como fazem os gatos, os cães e as crianças, antes de serem domesticados. Bem que poderíamos utilizar a linguagem da Astrologia, que é uma simples observação da linguagem da Natureza - antes de ser reduzida a mínimos denominadores comuns pela nossa necessidade de justificar o Sonho em que vivemos - como uma das grandes ferramentas para nos reconectarmos ao todo, para experimentarmos o “religare” com o sagrado. Mas para isto temos que ousar abrir mão de uma série de conceitos e regras baseados na idéia de bom e ruim, bem e mal.

D.M.
A domesticação é tão forte que num ponto determinado de nossa vida não precisamos mais que ninguém nos domestique. Não precisamos da mamãe ou do papai, da escola ou da Igreja para nos domesticar. Somos tão bem treinados que passamos a ser nosso próprio treinador.

Somos um animal auto-domesticado. Agora podemos domesticar a nós mesmos de acordo com a mesma crença no sistema que nos forneceram, usando as mesmas técnicas de punição e recompensa. Punimos a nós mesmos quando não seguimos as regras de acordo com nosso sistema de crenças; recompensamos a nos mesmos quando somos “bonzinhos” ou “boazinhas”.

Val:
Curiosamente, todas as ferramentas que temos ao alcance de nossa mente, inclusive a Astrologia, mas também o Tarot, a Yoga, a Psicologia e muitas outras linguagens de se obter consciência, de se experimentar a transformação, estão comprometidos com o Sonho do Planeta, com o grande Maya, pois foram criadas dentro e a partir Dele, consequentemente, acabamos entrando em um circulo vicioso no qual toda transformação ocorre de forma a não ser uma transformação verdadeira, e sim uma atualização, uma readaptação ao Sonho.


Cada gesto do ser em direção à transformação tende a ser um gesto ilusório, um argumento retórico para nos fazer sentir confortáveis dentro deste Sonho, para atenuar nossa rebeldia e fazer com que não nos sintamos covardes e apegados, para fazer com que vivamos dentro de outra ilusão: a ilusão de que estamos reagindo e fazendo alguma coisa, de que não somos totalmente covardes e acomodados.


Mas, abandonar a idéia de que precisamos do “outro” para sermos completos, -- que é um dos fundamentos do Sonho do Planeta --, isto não conseguimos conceber. Abandonar a idéia de que somos seres únicos, exclusivos, especiais, individualidades poderosas, totens de vaidade social - em vez de partículas de uma totalidade - também é muito difícil e preferimos não viver o desconforto de experimentar isto, pois a responsabilidade com o “outro” se torna um fato, a necessidade de ser “inteiro” para poder compartilhar esta inteireza com o “outro” em vez de simplesmente ficar esperando aprovação, é muito, muito trabalhosa. O medo de ficar só - mesmo estando sós nesta pseudo individualidade forjada - , outro artifício do Sonho para nos manter atrelados, é muito forte para suportarmos este conflito de sermos plenos e ao mesmo tempo partes fundamentais do corpo de D’us.

Don Miguel
O sistema de crenças é como o Livro da Lei que regula nossa mente. Sem questionar, o que estiver escrito no Livro da Lei é nossa verdade. Baseamos todos os nossos julgamentos segundo o Livro da Lei, mesmo que esses julgamentos e opiniões venham contra nossa própria natureza. Mesmo leis morais como os Dez Mandamentos são programadas em nossas mentes no processo de domesticação. Um a um, todos esses compromissos passam a constar no Livro da Lei, e esses compromissos regem nosso sonho.

Val:
O planeta Júpiter, e a questão que o envolve: casa IX, Sagitário, representam a elaboração das Leis de um modo geral. Representam nossa aceitação às Leis, nossa identificação com as Leis, sejam as do Livro da Lei que regula o nosso Sonho coletivo, sejam as Leis da Natureza. A casa IX do horóscopo simboliza, por ser a terceira casa de Fogo, o Fogo Mutável, e como é próprio do modo Mutável, representa uma passagem, representa um momento de compreensão na dinâmica dos signos, mas enfim, a terceira casa de Fogo, símbolo da Identidade é o aspecto mais sublime de nossa identidade, é o momento em que transcendemos nosso modelo normal e experimentado e experimentamos uma passagem dimensional para outro plano do elemento, da vida, no caso, conquistamos uma nova Identidade. Por isso, a casa IX simboliza o futuro da nossa identidade, aquilo que queremos ser alem de nós mesmos, aquilo que gostaríamos de “ser quando crescermos”. O modo Mutável é, fazendo uma analogia com os estados da matéria, equivalente ao gasoso, enquanto que o Fixo corresponde ao estado sólido e o cardinal ao líquido. Este “gasoso” do mutável, seja de Sagitário, Peixes, Virgem ou Gêmeos, pode significar um meio adequado para a propagação do som, ou das idéias, mas pode representar uma neblina, uma névoa que distorce as imagens e impedem que a gente veja a real realidade. Ir alem de mim mesmo, como indica o Fogo Mutável de Sagitário e é a função da nona casa, implica em ter acesso às Leis Naturais que permitem isto. Implica em estabelecer uma relação mais profunda com a Totalidade, e por isso o mecanismo de compreensão das Leis que regulamentam todos os movimentos da Natureza.


A redução deste processo evolutivo natural aos mínimos denominadores comuns estabelecidos pelo Sonho do Planeta, faz com que identifiquemos apenas as Leis contidas no Livro da Lei que regulamenta o sonho, e com isto percamos nossa possibilidade de nos vincularmos às Leis Maiores, à Lei da Natureza, a Lei que está contida em nossa essência e em nossa condição de Ser Natural. Neste caso, em função de nosso compromisso com o Sonho do Planeta, e com nosso Sonho Pessoal, -- que foi elaborado a partir de nosso filtro pessoal (identificável pelo horóscopo), mas cujos parâmetros foram fornecidos pelo Sonho coletivo, nossa perspectiva de sermos mais do que somos, de evoluirmos para outro plano da existência, para projetarmos e criarmos a expectativa de uma nova e cada vez mais requintada identidade, torna-se limitada, ou melhor, atrelada a este Sonho. E como podemos observar, de um modo geral, a proposta do Sonho do Planeta é de acumular, ter cada vez mais, possuir, estabilizar, conservar. Tudo bem, não é uma má proposta, afinal, estamos encarnados e somos por enquanto seres físicos, profundamente vinculados e dependentes de uma realidade material. Mas o problema é que é só isto, paramos nisto, nos bastamos com isto. O peso do compromisso com a realidade material se transforma em um lastro, em um limite difícil de ser superado. Nosso desejo de ser “mais”, de evoluir, de nos tornarmos mais plenos, está sempre circunscrito pela necessidade de estabilidade e conforto, o que cria um conflito entre a possibilidade de transformação e a necessidade de conservação. E o sonho nos impõe a conservação. Esta é a idéia de “normalidade” que nos é imposta, a idéia de “mundo perfeito” e de felicidade que aprendemos desde a infância. Fica difícil saber para onde ir, alem destes referenciais materiais e comportamentais. Fica difícil imaginar que poderíamos ser algo mais do que somos, sem abrir mão do conforto material e da segurança. Tanto a questão II quanto a questão IX (quando as outras casas todas do horóscopo) se tornam um peso, algo que nos puxa para a estagnação, em vez de serem referencias para uma transformação e evolução. É tão forte o peso do Sonho do Planeta que, escrevendo estas linhas eu fico imaginando que não sei o que mais poderiam significar estas casas, que experiências elas poderiam representar alem de eu ser uma “pessoa mais importante e com mais dinheiro e estabilidade”, e também imagino que não tem sentido não lutar por isso apenas, e que conquistar isto (segurança, estabilidade, etc.) é o caminho e a base para a evolução. Fui convencido e meus olhos não conseguem atravessar a névoa e ver algo alem. Sinto que existe, mas ainda não reconheço em mim mesmo a capacidade de Ver alem. Como diz o Osho, “...um tomate não pode analisar outro tomate, ele precisa ser mais que um tomate para isto...”, e em termos de olhar a dimensão da nossa existência dentro do estado do Sonho, somos tomates tentando se entender. Por isso a mesmice e a repetição dos conceitos astrológicos; por isso nossa resistência em aceitar que a astrologia poderia ser diferente do que é. É a mesma resistência em aceitar que nós poderíamos ser diferentes do que somos.

D.M.
Existe algo em nossa mente que julga a tudo e a todos, incluindo o tempo, o cão, o gato... tudo. O Juiz interno usa o que está escrito no Livro da Lei para julgar o que fazemos e o que não fazemos, o que pensamos e o que deixamos de pensar, mais tudo o que sentimos e deixamos de sentir. Tudo vive sob a tirania deste Juiz. Todas as vezes que fazemos alguma coisa que vai contra o Livro da Lei, o Juiz diz que somos culpados, que precisamos ser punidos e que deveríamos nos envergonhar. Isso acontece muitas vezes por dia, dia após dia, ao longo de todos os anos em que vivermos.

Val:
Este algo que existe dentro de nós e que julga é na verdade o significado reduzido, distorcido e adaptado pelo Sonho do Planeta para a expressão autorizada de cada símbolo planetário em nosso horóscopo pessoal. Cada expectativa representada por um planeta, conduz a um julgamento, pois construímos a realidade a partir desta expectativa, e quando não conseguimos elaborar uma realidade adequada e satisfatória à nossa expectativa, tentamos estabelecer outros critérios para mudar esta realidade, e o mecanismo disso é o julgamento. Como o julgamento é baseado no Livro da Lei, o significado possível de cada planeta é potencializado pelos códigos e regras contidos neste livro. É isto que passamos a achar certo, é este o significado - o do Livro da Lei - que atribuímos aos planetas no mapa astrológico.


Daí que Vênus passa a corresponder simplesmente aos critérios universais de relacionamento, mas este desejo e estes critérios de relação estão de acordo com o Livro da Lei, são aceitáveis dentro do grande Sonho do Planeta, não representam nenhuma liberdade, nenhuma transgressão. Apenas adaptação aos padrões comuns e aceitáveis pela Ilusão Coletiva de certo e errado. Evidentemente que Vênus utilizado de acordo com a Lei do grande Sonho Coletivo, não representa necessariamente infelicidade ou desequilíbrio. É necessário sabermos caminhar também neste sonho, pois e nele que nascemos. Mas, olhando em volta de nós, olhando em nossas próprias vidas, percebemos com clareza a quantidade de experiências que deixamos de viver, a intensidade do sofrimento amoroso que as pessoas encontram, a dificuldade que existe para se fazer uma escolha saudável e viver uma relação harmoniosa e plena. Porque será? Bem, imaginamos que, para o Sonho do Planeta, para que Ele se mantenha, não seria conveniente que as pessoas experimentassem a plenitude do relacionamento consciente, isento de culpa e de competição e conflitos inúteis, pois assim todos descobririam que estamos juntos, que podemos trocar, compartilhar e confiar uns nos outros, e isto seria extremamente perigoso e revolucionário para a manutenção do Sonho, pois eliminaria nossa maior fragilidade, Isto foi apenas um exemplo de como a necessidade de julgar tudo segundo os critérios do Livro da Lei, o manual de regras do Sonho do Planeta, distorce e nos faz viver distantes de nós mesmos, alheios à nossa plenitude e aos seres divinos que somos .Pensemos em outro exemplo. Saturno. Este ai, uma das molas mestras da manutenção das leis que nos atrelam ao grande Sonho. O julgamento que o Saturno em nosso mapa, em nosso Ser, faz da realidade é sempre baseado no medo, na fragilidade de nossa estrutura, exatamente porque no Livro da Lei consta que nascemos frágeis (nosso educadores, parentes, etc., insistem obsessivamente em mostrar nossa fraqueza, e que se não formos obedientes à Lei, seremos punidos), consta que o Medo é uma das referências para definirmos a realidade, para julgarmos a realidade. Será que Saturno em outra dimensão de compreensão é apenas medo? É apenas necessidade de segurança? É apenas rigidez? Ou estes critérios, que funcionam como lentes para que vejamos o mundo apenas de acordo com eles, apenas se prestam para que nos mantenhamos atrelados ao Sonho do Planeta e suas decorrências?

D.M.
Existe outra parte de nós que recebe os julgamentos, e essa parte chama-se: a Vítima. A Vítima carrega a culpa, a responsabilidade e a vergonha. É a parte de nós que diz: “Sim, você não é bom o suficiente”. E tudo isso é baseado num sistema de crenças que não chegamos a escolher. Essas crenças são tão fortes que mesmo anos mais tarde, depois que fomos expostos a novos conceitos e tentamos tomar nossas próprias decisões, descobrimos que essas crenças ainda controlam nossas vidas.

Val:
O movimento da vida, seja no Sonho ou fora dele, é sempre um fluir e refluir, a vida vem em ondas como o mar, como diz a canção. Tudo é energia, tudo flui através de ondas, e isto é um fenômeno comprovado fisicamente. Neste vaivém, o julgamento e sua contrapartida também estão submetidos ao fenômeno ondulatório. O julgamento é o mundo se oferecendo para a gente e sendo filtrado por nossos canais distorcidos e modulados pelo Sonho, provoca uma resposta à altura, que é a conduta de vítima. Ser vítima é uma reação e uma conseqüência de nossa expectativa inadequada, ou melhor, adequada apenas ao Sonho e não ao nosso instinto e nossa natureza essencial. O jogo da vítima é absolutamente institucionalizado e aceito dentro do plano do Sonho. É incomodo, é verdade, mas nossa maneira de construir uma realidade sustentada por julgamentos, implica na reação inevitável de sermos vitimados por estes mesmos julgamentos que fazemos todo tempo, e cujos critérios estão escritos no Livro da Lei, no conjunto de normas que regula o Sonho do Planeta. Os planetas no horóscopo cumprem a dupla função, de julgar e de ser vítima, que é a mesma coisa que ser julgado como conseqüência dos nossos julgamentos. Júpiter, por exemplo, julga moralmente, e depois se torna vítima moral deste julgamento que faz, como forma de se justificar e suporta-lo. Saturno julga o peso e a medida e a conveniência das coisas todas, e se torna vítima do medo de sair da medida, perder os limites, perder a estrutura. Marte julga a energia investida, por si mesmo e pelos outros, julga a sexualidade e o vigor das coisas - em vez de vivê-las como lhe compete - sempre com base em regras que nem sempre correspondem ao tônus e à natureza da pessoa; depois se torna vítima de seu desejo, vitima de seu gesto, que isto faz parte do script de manutenção do Sonho. Mercúrio vive do julgamento que cada palavra de seu discurso, cada movimento de sua compreensão produz; e é vítima da incompreensão que isto provoca, é vítima de eternos mal entendidos, ou pior, vítima da interpretação inadequada do que é real e do que é imposto a nós pelo Sonho. Vênus, o senhor do desejo, julga acompanhando os critérios impostos pelo Livro da Lei, em vez de simplesmente desejar com o coração; torna-se uma vítima contumaz de suas escolhas inadequadas e de seus desejos sem coração. Toda expressão destes planetas é acompanhada de culpa e sentimento de inadequação, por não estarmos acompanhando o desejo de nosso íntimo, por estarmos submetendo a expressão destes símbolos planetários a um modelo que muitas vezes não corresponde à nossa real necessidade. Esta culpa, para ser aliviada, precisa de que assumamos a postura de vítima, para não sermos responsabilizados pelo destino, ou sei lá por quem, por não termos respeitado nossa verdadeira natureza, por termos adotados critérios e regras que precisavam de julgamento, em vez de serem espontâneos e naturais, principalmente para amar. Quem ama sem julgamento? Quem não conhece a condição de ser vítima do amor? Vítima das escolhas amorosas que foram produto de julgarmos entre o certo e o errado, entre o bom e o ruim, baseando-nos em critérios que são culturais em vez de obedecermos nosso coração.

Don Miguel
O que quer que vá contra o Livro da Lei irá fazer você experimentar uma sensação estranha no plexo solar, que é chamada medo. Quebrar as regras do Livro da Lei abre seus ferimentos emocionais, e sua reação cria veneno emocional. Porque tudo que está no Livro da Lei tem de ser verdade, qualquer coisa que desafie aquilo em que você acredita irá produzir uma sensação de insegurança. Mesmo que o Livro da Lei esteja errado, ele faz com que você se sinta seguro.

Val:
Quebrar as regras é muito difícil. Sempre temos a sensação de que temos algo muito precioso a perder, fomos convencidos disto desde a infância. Mas nunca sabemos o que é este algo que podemos perder. O que será? Bem, entre outras coisas, perdemos a sensação de “pertencer”, esquecemos que pertencemos naturalmente ao mesmo plano, à mesma espécie, ao mesmo planeta, ao mesmo organismo cósmico, e vivemos a ameaça de, por qualquer transgressão ao Livro da Lei, sermos excluídos da tribo, e este medo constante nos assombra. Mas é uma impossibilidade natural sermos excluídos da espécie, deixarmos de fazer parte do gênero humano, mas isto não nos avisaram. Acabamos convencidos pelo contexto dos sonhadores que “pertencer” é poder prestar contas continuamente do que somos, de quem somos, do que estamos fazendo, do que fizemos. Somos na verdade uma biografia ambulante, uma descrição de nós mesmos e do que esperam de nós, e é comum esquecermos quem somos na verdade e nos confundirmos com a descrição de nós mesmos, a que fazemos e a que os outros fazem. Talvez nos primórdios da humanidade, ou em pessoas que sobrevivem em condições muito precárias e selvagens, a presença da tribo realmente representasse proteção, mas curiosamente entre estas pessoas, a ausência de medo e a auto-suficiência é notavelmente maior que entre os homens civilizados. A idéia de que “não nos bastamos” muda completamente o código de leitura do horóscopo. Toda interpretação passa a ser feita em função da pressão, das cobranças do contexto onde a pessoa vive. Toda interpretação dos símbolos astrológicos passa a ser uma descrição das expectativas que a sociedade tem do indivíduo, e se ele está correspondendo ou não a elas, se está sendo feliz por sentir-se aceito na tribo, ter algum grau de importância na tribo, ter status por ser o que esperam dele. Bem, talvez isto seja o certo, não é? Quem sabe? Os vínculos pessoais e sociais em geral, que poderiam corresponder a uma troca amorosa, a uma complementarão energética e afetiva, acabam funcionando como desafios e questionamentos desnecessários; funcionam como exerceres de pressão, como se cada pessoa fosse uma “quadratura” nos mantendo eternamente vigilantes e atentos às ameaças do julgamento do “outro”, e sempre preparados para assumir o papel de vítima, completando a trama das relações de dependência. Quando ousamos sermos nós mesmos, seguir nosso instinto, ou nosso coração, a reação que surge não é apenas a angustia existencial, realmente abrem-se as feridas de nossa desconexão com nossa essência, e temos que nos intoxicar de ilusões, ou de comportamentos típicos de vítima, para suportarmos a dor desta ruptura com a gente mesmo. Como Vítimas, fica mais fácil, a coisa sem justifica, se redime de certa forma.

D.M.
É por isso que precisamos de um bocado de coragem para desafiar nossas próprias crenças. Ainda que saibamos não haver escolhido nenhuma dessas crenças, também é verdade que terminamos por concordar com todas elas. A concordância é tão forte que mesmo que a gente entenda o conceito de que não são nossas verdades, sentimos a culpa e a vergonha que ocorrem se formos contra essas regras.

Val:
A astrologia, esta astrologia que nós praticamos durante tanto tempo, comprometida com o Sonho do Planeta, nos assusta ainda. Percebemos um aroma, uma certa luz que ela pode nos conduzir para além das Leis que regulam e nos mantém neste estado adormecido, mas muitas vezes nos falta a coragem para desafiá-la. Está funcionando, está - teoricamente - dando “consciência” a nós, mas a consciência que uma astrologia comprometida com o grande Sonho nos dá, é limitada e delimitada pelas Leis reguladoras deste Sonho. É uma astrologia engajada e comprometida. A consciência que ela nos dá é a repetição das normas e regras mantenedoras, adormecedoras. Satisfaz nossa vaidade intelectual, nos mantém aparentemente ligados ao universo e com acesso às leis da Natureza. Mas nossa visão empanada pela neblina do sonho, não nos permite ver alem das descrições convencionais, de que Saturno é o medo, Marte o sexo e a Lua a mãe e assim por diante. Intuímos que existe algo alem desta descrição, mas quem de nós ousa ir alem? Romper com a regra, fugir do padrão, se recusar a aceitar a mera descrição comportamental como modelo de consciência, quando não é consciência coisa nenhuma. Descrição não é consciência. E quando prevemos o futuro, ou “analisamos tendências”, como dizem os mais modernos, ou “avaliamos o potencial” dos acontecimentos, como dizem outros ainda, o que estamos fazendo? Reforçando o sonho do que é certo e errado, projetando a pessoa no futuro do próprio sonho de que o que nos apresentaram como mundo é o mundo mesmo. Talvez até seja, mas é difícil sabermos não é? Mas podemos todos questionar se, este mundo ao qual estamos atrelados, esta “realidade” na qual estamos submersos e com a qual estamos comprometidos, permite nosso crescimento alem dos limites dela, permite a sensação de integração com o universo, permite a constatação da plenitude que, intuímos existe em nós. E quando a astrologia incorpora uma linguagem mais esotérica, quando os recursos interpretativos e a base filosófica da análise se sustenta sobre dogmas e conceitos religiosos, alguns vindo do oriente e meio forçosamente adaptados à linguagem da astrologia ocidental, enfim, quando isto acontece, o reforço da ilusão é maior ainda, mais enganoso ainda, pois nos afunda em afirmações que não poderemos constatar jamais, nos compromete com a idéia de que não temos responsabilidade sobre nossos atos, e sim algum outro que fomos em outra existência, como se os egos reencarnassem e trouxessem todo seu vínculo ao livro da Lei, todo seu compromisso com a pequenez moralista do ser humano, as experiências vividas, os débitos a serem pagos e outras mediocridades que nos desvinculam da possibilidade de sermos espíritos livres e iluminados, e nos atrelam com a alienação submissa de quem vive adormecido neste plano do grande Sonho coletivo.

D.M.
Assim como o governo possui o Livro de Leis que regula o sonho da sociedade, o nosso sistema de crenças possui o Livro da Lei, que regulamenta nosso sonho pessoal. Todas essas leis existem em nossa mente, acreditamos nelas, e o Juiz dentro de nós baseia tudo nessas regras. O Juiz decreta e a Vítima sofre a culpa e o castigo. Mas quem disse que existe justiça neste sonho? A verdadeira justiça é pagar uma vez por cada erro. A injustiça verdadeira é pagar mais de uma vez por cada erro.

Val:
O horóscopo pode ser uma reprodução, uma expressão materializada do Livro da Lei, e ser um poderoso instrumento de manutenção da regulamentação do sonho pessoal, depende apenas de como for utilizado, e acreditamos que, até o presente momento, o horóscopo e a astrologia são usados apenas para a manutenção da Lei e do Sonho, raramente para a libertação e transformação. Como já dissemos anteriormente, a linguagem da astrologia está circunscrita aos limites e aos códigos de nossa mente, que por usa vez está atrelada ao estatuto moral da sociedade, seus princípios e regras. Não há muito como fugir disto. A astrologia, assim como todas as leis que constam no Livro da Lei da realidade estão contidas também em nossa cabeça. Usamos a interpretação para julgar e manter, alimentar o “status quo”, reforçar os padrões morais e manter a pessoa atrelada a seu nível de exigência. Poderíamos ousar afirmar que toda interpretação que seja coerente com a realidade, como a percebemos dentro dos limites de quem está adormecido, é um julgamento!


Certos padrões que se repetem na análise, procedimentos comuns, como por exemplo afirmações do tipo “você é assim!”, “você tem um grande potencial para a cura”, “tua capacidade de relacionamento está bloqueada pelo aspecto de Saturno com Vênus”, “o Urano dominante no teu mapa te torna uma pessoa excêntrica e com grande necessidade de ser livre”, “A posição de Pluto confere uma grande necessidade de poder - ou potencial para exercer poder”, são reforços ao estado de inconsciência ao qual somos todos submetidos pelo Livro da Lei, pois todas estas afirmações, citadas como exemplo, só fazem sentido em uma realidade na qual estamos separados dos outros, não estamos de fato vinculados à humanidade, nos achamos especiais e únicos, e estas características são muito eficientes para afastar a gente de si mesmo, para manter a gente dopado e embriagado pelo sonho cultural que vivemos. Fazer uma pessoa sentir-se feliz e confortável dentro dos problemas dela, mostrar saídas para que ela se conforme e mude sem mudar nada na verdade, não creio que seja mal, aliás é o pouco que podemos fazer com a Astrologia tradicional. Mas esta estratégia e este uso da astrologia é um meio de manter a pessoa adormecida, acreditando que aquela vida, aqueles problemas ou pequenas soluções, é tudo que lhe resta. Talvez seja mesmo, não é? Quem sabe? Aliás, minhas defesas, meus medos estão aqui me cutucando desesperadamente para que eu não acredite que haja algo alem daquilo que o mundo me convenceu que existe, não haja nada alem da astrologia que eu conheço, a não ser algumas tecnicazinhas e novas posições planetárias e variações sobre o mesmo tema. Será que resisto? Será que me entrego à pressão do sonho que está me assobiando que sou ridículo em querer pensar alem do que me é permitido? Ai! Que faço eu?

Don Miguel
Quantas vezes pagamos por um erro? A resposta é: milhares de vezes. O ser humano é o único animal na Terra que paga milhares de vezes pelo mesmo erro. O resto dos animais paga apenas uma vez pelo erro cometido. Não nós. Temos uma memória poderosa. Cometemos um erro, julgamos a nós mesmos, descobrimos que somos culpados e castigamos a nós mesmos. Se a justiça existe, então foi o suficiente; não precisamos nos castigar outra vez. Mas cada vez que lembramos, julgamos a nós mesmos outra vez, nos declaramos culpados outra vez e punimos a nós mesmos outra vez, e outra, e outra ainda. Se tivermos uma esposa ou marido, ela ou ele também ajudarão a lembrar de nosso erro, de forma que nos julgamos, condenamos e castigamos ainda outras vezes. É justo isso?

Val:
Está ai uma interpretação clássica da Lua: a memória. Esta conjectura, sobre nos punirmos muitas vezes pelo mesmo erro, mostra uma diferença bastante objetiva entre os seres submersos na grande ilusão e os animais, por exemplo. Os erros que cometemos, excluindo aqueles que são de fato prejudiciais à própria vida , são erros sob o ponto de vista de quem? O que são os erros na verdade, quem ou o que os define? Um animal que, após horas espreitando sua caça, erra o salto e deixa escapar o alimento, cometeu um erro. Mas será que ele para e se lamenta disto? Será que ele acha que isto é motivo de punição? OU mesmo um cão doméstico, que morde uma criança que lhe puxou o rabo, errou de fato? Merece ser castigado? E a criança, errou? O que são nossos erros? Investimos no projeto inadequado, escolhemos para nos relacionar uma pessoa que nos traz problemas depois, investimos nossa economia em algo que posteriormente se mostra um fiasco financeiro, enfim, são os erros que cometemos por acreditar que são erros. Mas dentro de uma ótica de que a vida é aprendizado, seriam motivos para sermos punidos? É motivo para sofrermos e nos martirizarmos muitas e muitas vezes lamentando nosso fracasso, nos envergonhando das escolhas erradas, e algumas vezes até mesmo somatizando estes sentimentos e frustrações e adoecendo? Quem foi que determinou que temos que sofrer por não sermos perfeitos e estarmos neste constante aprendizado? Ah!! Este simbólico Livro da Lei, que impõe um modelo ilusório de superioridade e perfeição a todos nós. E a vida se torna insuportável por esta cobrança de perfeição e superioridade, que foi forjada desde a primeira infância, na fase lunar da formação de nosso caráter, e nós estrebuchamos o tempo todo para sermos o que não somos, não podemos ser perfeitos, e nos falta o tempo para refletir e questionar se é bom viver assim, nos punindo, com medo constante da falha, do erro, do fracasso e do julgamento que vão fazer de nós, exatamente como nossos pais e formadores faziam, e que nós mesmos continuamos fazendo o tempo todo. Quando interpretamos Saturno em um horóscopo, e vemos o possível medo do fracasso, da perda de estrutura, percebemos as restrições potenciais, estamos usando quais critérios para entender o que é fracasso, estrutura. E quais os parâmetros para definirmos o que restringe a pessoa? Ou no que ela mesma se restringe a partir da casa, signo e aspectos envolvendo este planeta? Será que não é hora de analisarmos criticamente estes conceitos de fracasso, restrição, etc. e, em vez de ficar usando Saturno para justificá-los e explica-los simplesmente, possamos excluir estas “coisas” de nossas vidas, pois elas foram impostas e não são realmente necessárias a uma qualidade de vida e felicidade que poderíamos ter. São descrições de condições que não precisavam de fato existir, pois não existem nos outros seres da natureza, pelo menos não se manifestam da mesma forma perversa e limitadora do homem. E a Lua, dentro deste contexto, passa a representar a função da memória, e passa a conter - por suas correlação com o momento da formação da personalidade, a infância - o script que insistimos em repetir.

D.M.
Quantas vezes fazemos nosso cônjuge, nossos filhos e nossos pais pagar pelo mesmo erro? A cada vez que lembramos um erro, culpamos a eles novamente e enviamos todo o veneno emocional produzido pela injustiça, depois fazemos com que eles paguem outra vez pelo mesmo erro. Isso é justiça? O Juiz na mente está errado porque o sistema de crenças, o Livro da Lei, está errado. Todo o sonho é baseado em leis falsas. Noventa e cinco por cento das crenças que temos armazenadas em nossas mentes não passam de mentiras, e sofremos porque acreditamos nessas mentiras.

Val:
As casas astrológicas, representando campos de expressão da consciência, ou melhor ainda, campos de projeção psíquica, é o território, o cenário onde se desenrolam estes dramas existenciais. Todas as casas tem seus personagens, as pessoas nas quais projetamos as respectivas expectativas de sua representação. Tem a casa da família e das pessoas do passado, dos empregados e do ambiente de trabalho, das pessoas que nos dão valor, daquelas a quem atribuímos valor, daquelas que nos confrontam e nos completam, das pessoas que nos traem, etc. Todo este movimento das pessoas representadas pelas casas são projeções. Nada disto existe na verdade. Os dramas e alegrias são uma descrição que fazemos a partir de nossas expectativas, pois outra pessoa, vendo o mesmo fato acontecer, poderia ter uma interpretação completamente diferente da nossa, a interpretação dela. A Lua e sua configuração, é o que determina esta diferença na percepção das projeções da consciência entre eu e outra pessoa. E esta diferença não está exatamente na configuração astrológica da Lua, apesar desta configuração simbolizar o potencial para que administremos de forma pior ou melhor as qualidades lunares, mas esta percepção do mundo, das casas está determinada muito mais pela imposição de muitos modelos que contrariam nossa natureza essencial, modelos impingidos pelo convívio familiar, que vão gerar o sofrimento da vítima e a identificação com o julgamento constante.

D.M.
No sonho do planeta, é normal que os seres humanos sofram, vivam com medo e criem dramas emocionais. O sonho exterior não é agradável; é um sonho violento, um sonho de medo, um sonho de guerra, um sonho de injustiça. O sonho pessoal dos seres humanos pode variar, mas de forma global, geralmente é um pesadelo. Se observarmos a sociedade humana, encontramos um lugar muito difícil de viver porque é regido pelo medo. Através do mundo, vemos os seres humanos a sofrer, sentir raiva, vingar-se, viciar-se e provocar violência nas ruas, gerando uma tremenda quantidade de injustiça. Pode existir em níveis diferentes em vários países ao redor do mundo, mas o medo controla nosso sonho exterior.

VAL:
Saturno, Meio do Céu, Capricórnio, símbolos do nosso compromisso com a “realidade” social, tão temido, tão mal compreendido...O ultimo planeta visível, o limite entre tudo que acreditamos, ou fomos convencidos a acreditar, e o que está além, o invisível, o transcendente, que tantos de nós buscam avidamente, como se, ir além do visível fosse a salvação. A realidade “alem de Saturno” é descrita por nós dentro dos termos da do Livro da Lei que é aceito pelos homens, é configurada através dos padrões aos quais estamos condicionados e que alimentam nosso estado de adormecidos. É como aqueles filmes que mostram um céu onde todas as vaidades, medos e desejos deste plano funcionam igualzinho, apenas as aparecias são mais luminosas e “clean”, mas projetadas como uma reprodução do Sonho do Planeta. Será isto mesmo? Será que, conservando os mesmos termos, os mesmos dogmas, as mesmas crenças e a mesma descrição do mundo, conseguiremos nos libertar deste estado de sofrimento e crueldade contra a vida? Será que continuando a achar que este mundo é certo, que esta percepção que temos de nós mesmos e de nossos limites é certa, que nossa pequenez e mesquinhez é certa, que alguém sempre tem que perder para alguém ganhar - um dos mais poderosos princípios da Lei que mantém o mundo em conflito -- , enfim, alguém ainda acredita na mudança, na melhoria dentro deste paradigma que o Sonho do Planeta nos impõe há tantos séculos? A “questão” X, e todos os símbolos envolvidos nela, solicitam o eterno testemunho do outro para confirmar nossa existência, nossa realidade, mesmo que aparente e sonhada. A questão VII também tem esta função, “sei que existo porque tu existes”. Este testemunho do “outro” funciona muito mais como uma submissão ao julgamento do que como simples referencia. É o “outro” que determina e exige que o Eu se mantenha adormecido e comprometido com esta Lei apequenadora. Cada vez que precisamos do “testemunho” de alguém para nossa existência, cada vez que dependemos disso para confirmar o que sentimos, o que estamos vivendo, estamos na verdade procurando o endosse e a confirmação de que estamos cumprindo a Lei, esta mesma Lei que provoca a separação entre os Homens, que provoca a competição, a crueldade social, a arrogância e egoísmo de muitos. Cada vez que queremos mostrar ao mundo nosso sucesso, nossa conquista, desejamos na verdade ser avalizados e reconhecidos como sintonizados com a Lei, a vaidade é uma ferramenta através da qual somos usados e escravizados a este sistema, é um soporífero que nos afasta de nós mesmos todo tempo. Cada vez que estamos amando, e queremos gritar ao mundo nosso amor, nosso encanto, estamos na verdade inseguros, não acreditando que o amor possa acontecer, e queremos a aprovação do mundo, o testemunho, a confirmação de que o amor possa existir e acontecer em nosso coração, e neste momento, submetemos nosso amor ao paradigma da vaidade e das regras que determinam que eu não posso ser senhor de minha vida e meu destino. E continuo adormecido, e o amor que sinto se funde e se dilui no meu sonho, no sonho de todos nós, que não parece estar sendo um sonho de liberdade e felicidade...

Don Miguel:
Se compararmos o sonho da sociedade humana com a descrição do inferno fornecida por quase todas as religiões do mundo, descobrimos que são a mesma coisa. As religiões dizem que o inferno é um local de punição, de medo, dor e sofrimento, um lugar onde o fogo queima a gente. O fogo é gerado por emoções que vêm do medo. Sempre que sentimos raiva, ciúme, inveja ou ódio, experimentamos um tipo de fogo queimando em nosso interior. Estamos vivendo um sonho do inferno. Se você considera o inferno um estado de espírito, então ele se encontra ao nosso redor. Os outros podem nos prevenir de que se não fizermos o que eles dizem que devemos fazer, iremos para o inferno. Más notícias! Já estamos no inferno, incluindo as pessoas que nos disseram isso. Nenhum ser humano pode condenar o outro ao inferno porque já estamos nele. É verdade que outros podem nos colocar num inferno ainda mais profundo. Mas apenas se nós permitirmos que isto aconteça. Cada ser humano possui o seu sonho pessoal, e assim como o sonho da sociedade, geralmente é regido pelo medo. Aprendemos a sonhar o inferno em nossa própria vida, em nosso sonho pessoal. Os mesmo medos se manifestam de formas diferentes para cada pessoa, claro, mas experimentamos a raiva, o ciúme, o ódio, a inveja e outras emoções negativas. Nosso sonho pessoal também pode se tornar um pesadelo constante, onde sofremos e vivemos em estado de medo. Porém, não temos necessidade de sonhar um pesadelo. É possível fabricar um sonho agradável.

Val:
É interessante a analogia que a Astrologia faz entre o Inferno e o signo, casa e regente de Escorpião, o signo da transformação. Parece que o Inferno é o processo de transformação propriamente dito, se fizermos um raciocínio bem básico, e todos os sentimentos negativos relacionados a este “viver no inferno”, como o ciúme, o ódio, a inveja, são manifestações do medo da transformação, sempre surgem quando é momento de se transformar e sair um pouco do velho Sonho. Se pensarmos no Livro da Lei, e nos regulamentos que fazem da nossa existência um tipo de inferno, onde em geral, o lado mais feio e pequeno do Homem prevalece, veremos que a mudança é contra todos os princípios que regem a manutenção do Sonho do Planeta, e do Sonho pessoal . É tudo que não convém, a grande ameaça ao sonho, o risco de nos despertar. Aceitar e viver a transformação nos liberta do sonho (ou pesadelo para alguns), nos coloca de frente da verdade, nos conduz a um confronto com a realidade e nos liberta das mentiras que nos contamos para aceitar viver atolados na estagnação da não mudança. Talvez por isso existe tanto preconceito com o oitavo signo e a oitava casa. São apresentados muitas vezes como sinais do pecado, do sofrimento, da obsessão, da sexualidade inadequada, e principalmente, da Morte, como se a Morte fosse algo a ser evitado e temido com todas as nossas forças. Claro que biologicamente estamos comprometidos com a vida, mas também estamos envolvidos com a inexorabilidade da morte. Mas quando a Lei mantenedora do sonho nega a idéia da morte, apresenta-a sempre como perda, dor e sofrimento, apenas isto, na verdade a idéia é nos remeter para a casa II, para uma visão distorcida da casa II, transformando este campo de projeção em uma relação absoluta com a forma, com a posse, com a matéria e nossa relação com estas coisas como a única forma de evitar a tão temida morte. Na verdade, o que se pretende evitar com esta negação cultural da morte é que percebamos que morrer é se transformar, e cada pequena transformação que vivemos, é uma pequena morte, e na verdade, acreditamos que são estas que o Livro da Lei pretende evitar. Associar a morte e o inferno a Escorpião e sua questão é uma forma de nos manter afastados do “bicho papão”; um esquema muito bem elaborado pela cultura do Sonho para que neguemos e vejamos sempre a transformação como o mal, como a dor, como a perda. Assim, nos apegamos cada vez mais à realidade material, como se ter bens e propriedades mantivesse a plenitude da vida, nos desse algum poder de superar a inevitável morte, e nos tirasse do caminho do fim da realidade material, do fim do corpo físico, do fim do ego e da vaidade. Sinto muito por todos nós, mas acreditar nisto só traz sofrimento e solidão, porque tudo acaba e tudo se transforma. Ah! Ainda temos a esperança de continuar depois, com o mesmo Ego. Outra ilusão para nos manter sonhando e nos impedir de agir e nos transformarmos enquanto estamos vivos e encarnados. Creio que algo em nos se dilui no universo, nossa energia vital se funde com o Todo da Natureza, volta para os lábios de quem soprou a vida em nós, e nosso espírito, talvez vague ou vá mesmo para algum lugar de aprendizado, mas nada disso podemos saber ou controlar. O Ego, nossos apegos e medos e vaidades e pequenos poderes e bens materiais aos quais nos vinculamos, estes acabam mesmo! Apesar de preferirmos acreditar em algo mais para satisfazer nosso apego ao sonho do planeta, para o qual a função do “apego” e da “conservação” das formas é uma das mais importantes referencias.


Sinto muito, sinto por todos nós, que sair da ilusão significa provar o sabor ácido da des-ilusão. É o preço.

D.M.
Toda a humanidade busca a verdade, a justiça e a beleza. Estamos numa busca eterna pela verdade porque apenas acreditamos nas mentiras que possuímos armazenadas na mente. Estamos procurando justiça porque no sistema de crenças que adotamos não existe justiça. Procuramos pela beleza porque, não importa quão bela é a pessoa, não acreditamos que essa pessoa tenha beleza. Continuamos procurando sem parar, quando tudo já está em nosso interior. Não existe verdade a encontrar. Sempre que voltamos nossas cabeças, o que vemos é a verdade, mas com os compromisso e crenças que temos na mente, não temos olhos para enxergar essa verdade.

Val:
Bem, acreditamos no que queremos acreditar, e também no que fomos convencidos a acreditar. E “acreditamos” que acreditar é um caminho que só serve a alguns senhores, ter fé em coisas e princípios externos a nos mesmos, apenas satisfaz aqueles que algo querem obter de nós. Basta ver a historia de absolutamente todas as religiões institucionalizadas, por melhor que sejam as intenções de seus divulgadores e sua boa fé. Basta ver algum tipo de astrologia tentando convencer as pessoas que está certa, que através dela se sabe alguma verdade, se descobre algum caminho, desde que se acredite nela, é claro. Tudo no mesmo balaio. Tudo instrumento para manter a pessoa “crente”, e para ser um “crente”, dar nosso crédito ao que nos contam, astrólogos, psicólogos, padres, pastores, pais, mães, é preciso estar dormindo. Se estivermos acordados, vamos experimentar, testar e ver o que podemos fazer com tudo isto, ou não? Duvidar é o único instrumento de aprender, de crescer e de se libertar. E quanto a procurarmos justiça, beleza, verdade, etc., fora de nós, a astrologia nos ensina que sempre buscamos preencher os vazios, os espaços. Os elementos que temos em menor quantidade no horóscopo, são aqueles nos quais mais nos concentramos e mais tentamos viver. E tanto o que temos “a mais” em termos de presença, quanto o que nos falta em termos de símbolos astrológicos, está realmente dentro de nós, que ninguém nasce imperfeito diante da perfeição e impecabilidade da Natureza.

Don Miguel:
Não enxergamos a verdade porque somo cegos. O que nos cega são as crenças falsas que temos em nossas mentes. Temos a necessidade de estar certos e de tornar os outros errados. Confiamos no que acreditamos, e nossas crenças nos predispõem ao sofrimento. É como se vivêssemos no meio de um nevoeiro que não permite enxergar um palmo além do nariz. Vivemos num nevoeiro que nem ao menos é real. Esse nevoeiro é um sonho, seu sonho pessoal da vida - aquilo que você acredita, todos os conceitos que possui sobre quem você é, todos os compromisso que assumiu com os outros, com você mesmo e até com Deus.

Val:
Bem, creio que temos que ter algum cuidado para que a Astrologia que praticamos não seja também uma crença falsa em nossa mente. Será que é? Como podemos saber? Quem de nós, apaixonados pela astrologia, eternos estudantes desta linguagem, acredita que a astrologia que conhece e pratica está certa? É o caminho certo? Nosso bom senso, nossa lógica, nossos critérios mais razoáveis nos dizem que a astrologia que praticamos - e estou estendendo esta idéia às várias linhas e estilos de prática astrológica - é correta e honesta. Mas e se nosso bom senso, nossa lógica, todos os limites culturais de nossas formulas de entender o mundo não estiverem certos? Bem, creio que jamais saberemos quem está certo. Mas a quem importa realmente estar certo ou não? A quem devemos satisfação de nossa verdade ser a verdade correta? A formula de que, se um conhecimento é fonte de sofrimento e controle, ou fonte de mais ilusão e acomodação, ele não é um bom conhecimento, creio ser uma boa formula para adotarmos como critério de avaliação de nosso trabalho com a linguagem astrológica.

D.M.
Toda a sua mente é um nevoeiro que os toltecas chamam de mitote. Sua mente é um sonho em que mil pessoas conversam ao mesmo tempo, e ninguém entende o outro. Essa é a condição da mente humana - um grande mitote, e com esse grande mitote você não consegue enxergar o que realmente é. Na Índia eles chamam o mitote de maya, o que significa “ilusão”. É a noção pessoal do “eu sou”. Tudo em que você acredita sobre si mesmo, sobre o mundo, todos os conceitos e programa que você tem na mente, todos formam o mitote. Não conseguimos ver quem realmente somos; não conseguimos perceber que não somos livres.

Por isso, os seres humanos resistem à vida. Estar vivo é o maior medo que os homens possuem. A morte não é o maior medo que temos; nosso maior medo é assumir o risco de estar vivo - o risco de estar vivo e expressar o que somos na realidade. Simplesmente sermos nós mesmos é o maior medo dos seres humanos. Aprendemos a viver nossa vida tentando satisfazer as exigências de outras pessoas. Aprendemos a viver pelos pontos de vista de outras pessoas, por causa do medo de não sermos aceito e de não sermos bons o suficiente para outras pessoas.

Val:
Creio que este aspecto, o medo de não sermos aceitos ou de não sermos bons o suficiente para outras pessoas sugere um problema fundamental na leitura do horóscopo. O significado dos planetas, das configurações, pode ser bastante distorcido em função desta expectativa da pessoa, que a motiva a reagir de forma distorcida, contrariando sua natureza , pelo medo de desagradar aqueles que ama.


Claro que, por mais que tentemos trair nossa natureza essencial, mostrada pelo mapa astrológico, não vamos conseguir fugir muito do que os símbolos sugerem como nossos potenciais básicos, e neste caso, vamos expressar estes potenciais de forma bastante inadequada e corrompida para tentar nos adaptar a um contexto exterior, a uma cobrança, que nem sempre vem das pessoas, muitas vezes vem de nossa crença condicionada do que é certo e errado, crença esta importa pelo sonho da humanidade, o Sonho do Planeta. Por isso muitas vezes nos expressamos certas qualidades de nosso horóscopo de forma tão inconveniente e incompreensível, e outras vezes, traímos nosso próprio destino e ficamos perplexos quando, uma configuração planetária que poderia representar qualidades positivas e interessantes, se expressa através de nossas atitudes como fonte de conflitos e problemas. O medo de não ser aceito é formado (tradicionalmente) através da questão IV e seus representantes essenciais e acidentais, sedimenta-se na casa II, onde nós não conseguimos estabelecer e definir nosso real valor, expressa-se também pela questão VIII que é onde as referencias da casa IV se cristalizam (a VIII é a V da IV), são “recebidos” do mundo externo através da casa X, o grande complemento da casa IV, a informação estruturadora que vem do mundo exterior e é assimilada pela nossa família e vivida através de nossa historia pessoal. Vale uma boa analise destas questões, sem preconceito, sem se apegar ao velho e anacrônico e medíocre modelo meramente descritivo. Talvez a idéia de se perguntar o QUE foi imposto e condicionado a mim através destas experiências (casas, questões) , e o que tenho que fazer para me libertar disto, como posso me rebelar contra tudo isto, pode ser algo funcional e interessante para nos despertar. Mas só de pensar nisto fico arrepiado e desisto imediatamente, afinal, quem é que quer enfrentar o mundo, o Sonho do Planeta, e no fim, ficar só, que esta é a grande ameaça que acaba nos obrigando a ceder ao Livro da Lei.

D.M.
Durante o processo da domesticação, formamos uma imagem do que é a perfeição para tentarmos ser bons o suficiente. Criamos uma imagem de como devemos ser para sermos aceitos por todos. Especialmente tentamos agradar aos que nos amam, como mamãe e papai, irmãos e irmãs maiores, os sacerdotes e os professores. Tentando ser bons para eles, criamos uma imagem de perfeição, mas não nos encaixamos nessa imagem. Criamos essa imagem, mas essa imagem não é real. Nunca iremos ser perfeitos sob este ponto de vista. Nunca! Não sendo perfeitos, rejeitamos a nós mesmos. E o nível de auto-rejeição depende de quão efetivos foram os adultos ao quebrar nossa integridade. Depois da domesticação, não se trata mais de sermos bons o suficiente para as outras pessoas. Não podemos perdoar a nós mesmos por não sermos o que desejamos ser, ou melhor, o que acreditamos que desejamos ser. Não podemos perdoar a nós mesmos por não sermos perfeitos.

Val:
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