No dia 13 de julho de 2009, Valdenir Benedetti deixou este mundo para viver entre as estrelas, talvez seu ambiente mais familiar. Porém aqui permanece imortalizado pela sua maneira de pensar e ensinar a astrologia. Muito amado por muitos, deixou uma marca indelével em seus alunos e em todos os astrólogos que com ele conviveram e que reconheceram nele um renovador da nossa arte de interpretar os céus. Como acontece a todos os que ousam transgredir, questionar e inovar, também teve lá seus desafetos, faz parte... Por sorte deixou inúmeros textos, alguns publicados outros não. Este blog foi criado para que todo o seu pensamento fosse acessível tanto aos que o conheceram quanto aos que, ao longo de seu aprendizado da Astrologia, com certeza dele ouvirão falar.



"Há pessoas que nos falam e nem escutamos, há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam, mas há pessoas que simplesmente aparecem em nossas vidase nos marcam para sempre."

Cecília Meireles







25.6.10

TRÂNSITOS, PROGRESSÕES E REVOLUÇÕES

Tenho notado desde muito tempo duas ocorrências comuns:
a posição de Marte (especialmente por casa) quando o cliente marca a consulta parece ser a motivação fundamental que o levou a solicitar a leitura do mapa, aquilo que deu coragem a ele. Se Marte está transitando na VI, são as urgências profissionais ou de saúde que o motivaram, se estiver na IV, é a questão familiar, e o interessante é que nem sempre o cliente tem consciência deste motivo, mas, assim que é abordado, ele confirma. Estou falando do mapa radical.

Outra coisa: a posição de Saturno em trânsito mostra com freqüência o que o está realmente incomodando, qual a questão que o cliente realmente quer trabalhar. Existe uma diferença: Marte é a motivação, o incômodo mais imediato; Saturno, a questão fundamental, acima ou atrás do Marte. Parece ser uma obviedade e é!

Quanto à revolução solar, abandonei a possibilidade de ela servir para fazer previsão. Aliás, abandonei a possibilidade de qualquer coisa servir para fazer previsões. O ser humano é tão surpreendente que é absolutamente imprevisível!

Claro que os trânsitos, progressões e revoluções mostram os desafios e facilidades e interligações casuais de certos momentos, mas o imprevisível é o que a pessoa vai fazer diante de um desafio ou de uma facilitação. Existem, e acredito que muitos que trabalham diretamente com isto já tenham observado, inúmeros casos em que, diante de um trígono de Júpiter ou do Sol ou algo assim, a pessoa comete uma imensa besteira, como começar a tomar drogas, por exemplo, e, no momento de uma quadratura de Saturno, a pessoa toma uma atitude que estabelece um novo e melhor padrão de vida. A partir desta observação mudei meu conceito de trânsitos/progressões/revolução como instrumentos de previsão. Prefiro chamá-los (e torno isto público!) de “referências de atualização do mapa radical”.

Os trânsitos mostram realmente como os ciclos evolutivos de cada significador planetário se processam, através de seus principais estágios (conjunção, semi-sextil, sextil, quadratura, trígono, quincunce, oposição,

quincunce minguante, trígono minguante, quadratura minguante, sextil minguante, semi-sextil minguante: doze estágios, doze casas). O ciclo se inicia durante a conjunção, passa pela fase II, o semisextil, quando o processo “toma forma”, entra pelo sextil, quando o entendimento do movimento começa a surgir, passa pela quadratura crescente, a primeira crise, a primeira grande reavaliação, quando o processo se fundamente e tem seu confronto com a historia pessoal e os condicionamentos anteriores a ele mesmo, segue pelo trígono crescente, quando a energia flui e se torna possível cristalizar e sedimentar criativamente o processo desencadeado no momento da conjunção, a seguir, ingressa no quincunce crescente, quando é pela primeira vez metodizado, disciplinado, purificado e passa a pertencer ao cotidiano da pessoa, depois de todas as experiências vividas na fase anterior, como que se preparando para ingressar no mundo social e ser compartilhado a partir da oposição. Dai começa o segundo estagio de um ciclo de trânsitos, vem o quincunce minguante, o trígono com a natureza de casa nove, a quadratura minguante, etc....

Desenvolva o raciocínio sobre a segunda fase pensando no significado das casas correspondentes, é simples.

Bem, estas regras valem para qualquer transito, da lua até plutão (que a gente em uma vida apenas não dá para conhecer as 12 fases), e no caso do Saturno, por exemplo, primeiro tem que considerar como a pessoa vive o Saturno, o que é o Saturno para ela, e o fato de Saturno estar em bom ou mal estado cósmico não quer dizer necessariamente nada de bom ou ruim, pois pode ter sido um desafio vencido que serviu de instrumento de auto-aprimoramento

Em função do estágio em que o planeta aspectante se encontra (ou da casa, é mais fácil olhar/ler o estágio assim), pode-se avaliar o desenvolvimento do processo, da relação entre as funções de cada planeta e o resto do movimento cíclico possível. Através dos trânsitos observa-se a própria dança dos significados dos símbolos em constante movimento e mutação na vida da pessoa, lembrando sempre que o significado do planeta transitante é sempre análogo e exatamente proporcional ao seu significado como planeta radical. Exemplificando a ultima afirmação: Saturno em trânsito não é necessariamente medo ou necessidade de estruturar, pois vai depender de como a pessoa lida com Saturno no mapa radical, seu estado cósmico e principalmente seu estado terrestre. O trânsito de Saturno não é algo que vem de fora e acontece com a gente. Saturno em movimento é sempre a expressão do nosso próprio Saturno se atualizando e atualizando os pontos que ele toca. O planeta e seu significado é algo que está dentro de nós, movimenta-se dentro de nós, e só assim pode ser interpretado para nossa realidade pessoal.

Quanto à Revolução Solar, é um mapa para o significador da Consciência e da Vontade objetiva (o Sol), uma avaliação de sua sazonalidade básica, o ano, e tem o caráter de um significador de possibilidades para a Consciência. É como se fosse um planejamento, uma proposta de remanejamento das possibilidades de cada planeta para o indivíduo durante aquele período, uma transferência e troca de funções para que cada um dos símbolos planetários aprenda a lidar com outras áreas que não são necessariamente comuns, tudo isto em harmonia com a consciência representada pelo Sol (a revolução é solar). Por isso chamo a revolução de mapa das oportunidades, gravem o nome!

Pequena análise critica dos trânsitos de Saturno

Cada dia mais a percepção do movimento da expressão dos símbolos que resolvemos chamar planetas, me comove, me envolve, me seduz dançante movimento que ilumina e faz constatar que já estávamos iluminados já estávamos projetando luz, e já somos luminosos basta ver com atenção como a dinâmica se processa. Tem quadratura, tem transito tem progressão de Saturno e surge a tensão, surge o obstáculo mas prestando atenção na tensão, para que surja o abismo no caminho, eu precisei ter escolhido este caminho, partiu de mim o gesto desencadeador da tensão

busquei eu mesmo o medo, o terror, a insegurança de ter feito a burrada (no caso, uma burrada cósmica) sempre e sempre e cada vez mais constatamos que os planetas não fazem nada, eu preciso me envolver, eu preciso articular, eu preciso entrar em link com o símbolo, incorporar o significado do símbolo e, com meus receios, com minha imaturidade, com meus instintos mal assumidos, distorcidos, reprimidos, contidos pela cultura e pelo medo de parecer pequeno, e pior ainda, quando uso meus princípios e tento ser coerente com o grande sistema no qual sobrevivemos, eu gesticulo e faço o planeta “acontecer” em minha vida gesticulo planetariamente, saturnianamente, abrakadabra saturnão! e faço então a grande besteira ou o pequeno acerto (normalmente é nesta escala)

Trânsitos e Transmutação

Os trânsitos não funcionam apenas de dentro para fora, como se vivêssemos uma transformação interior que fôssemos aplicando à nossa realidade mais imediata. As transformações e mudanças simbolizadas (jamais causadas) pelos trânsitos e outros indicadores de atualização planetária também ocorrem de fora para dentro, não apenas através de fatos dos quais muitas vezes nos sentimos vítimas, mas através de uma figura que costumo chamar de emissário ou agente planetário. Este agente normalmente é uma pessoa que surge em nossas vidas, ou um comportamento diferenciado em alguém com quem já convivíamos.

Exemplificando: Durante o Returno (retorno de Saturno) é comum que alguém de Capricórnio, ou Ascendente Capricórnio, Saturno dominante, ou simplesmente alguém mais velho, interfira em nossa vida, interaja com a gente, causando a tal da consciência saturnina e as transformações e estruturações decorrentes. Ou seja, a coisa não acontece sozinha simplesmente, ela acontece durante a interação entre o indivíduo e seu ambiente (durante o trânsito de Saturno por meu Ascendente, eu tinha uma turma de 15 alunos/as, 12 deles estavam vivendo Saturno em trânsito em conjunção com Saturno, Sol ou Ascendente, e cada um de nós ajudou e representou o papel de Cronos estruturador na vida do outro).

Pluto costuma também mandar seus emissários e, se ficarmos atentos, o trânsito se torna mais fácil de manejar. É evidente que ninguém vai deixar de viver o que tiver que viver, mas todos podemos, com esta referência, aproveitar melhor as lições deste planeta. Podem apostar que pessoas com características muito, muito plutônicas se aproximarão, passarão a fazer parte da vida como quem veio do nada (ah, nós sabemos de onde vieram!!!) e vão fazer um reboliço, vão fazer algo em nós morrer, não necessariamente com dor, mas muitas vezes com ela, para criar o espaço necessário a uma renovação em nossas vidas. Poderia dar dúzias de exemplos, mas um simples raciocínio e uma revisão na história pessoal de cada um vai mostrar que, nos momentos dos trânsitos de Pluto, sempre apareceu algum plutoniano de plantão, ou, em último caso, alguém da nossa intimidade “incorporou” o capeta do Pluto em suas atitudes e isto afetou e transformou nossa existência ou as qualidades e valores que projetávamos através do planeta ou do ponto atingido por Plutão.

Este negócio de transmutação alquímica da alma é uma besteira. Mas pode impressionar. Na verdade, nunca vi alguém se transmutando, mas já vi dor e alegria e mudanças significativas na vida das pessoas durante este movimento plutoniano. E podem apostar que o saldo é sempre positivo, pois toda mudança, por mais que nosso apego a velhas formas faça com que sejam dolorosas, é boa e necessária, senão simplesmente não aconteceria.

Aliás, por falar em “apego”: por ser esta uma palavra basicamente venusiana, e por Vênus representar o oposto simbólico de Pluto, esta é uma das questões que mais se evidenciam durante seus trânsitos, e talvez a mais terrível, pois o apego a certas coisas (objetos, formas de ser, crenças) nos dá segurança e sentido de realidade, nos mantém atrelados e coerentes com um sistema de valores que construímos para sustentar com alguma segurança nossa própria realidade. Desapegar-se pode significar, especialmente se Pluto estiver envolvido, abrir mão dos alicerces que faziam a gente ser como é, expressar-se desta forma, amar daquela forma, acreditar naquela outra forma... enfim, manter a forma (com e sem acento circunflexo). E não é fácil se permitir ficar sem alicerces e, conseqüentemente, sem segurança para fazer o que sempre fizemos, não é fácil mesmo. Mas, enfim, é o que a gente vai ter que acabar fazendo, e os agentes plutonianos que aparecem em nossa vida um professor, um amigo, um filho, um novo amor têm exatamente esta função.

Chega um dia, um certo dia, que a gente agradece a estas pessoas pelo que elas desencadearam em nossas vidas. Demora um pouco, mas chega. Da mesma forma que o Cristianismo tem que agradecer a Judas, o Escorpião da Santa Ceia, seu trabalho de detonador do Calvário, a mais usada base do Cristianismo. Ou a humanidade tem que agradecer à serpente (eta figurinha plutônica!) por tudo que aconteceu.

Valdenir Benedetti

2001

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